Décadas de pesquisa em genética estão agora colhendo frutos na forma de terapias inovadoras e vacinas baseadas em manipulação genética para controlar diversas doenças. Entre essas inovações, destaca-se a recente aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de um novo medicamento para tratar o colesterol alto, uma condição que afeta uma grande parte da população.
O medicamento, chamado inclisirana, foi criado pelo laboratório suíço Novartis e atua diretamente nos genes para ensinar o organismo a se proteger contra o colesterol alto. Através de duas ou três injeções por ano, a droga interfere na produção de uma proteína-chave que mantém o colesterol elevado, reduzindo os níveis de LDL (o colesterol ruim) em cerca de 50%, em média.
A inovação do inclisirana está em sua ação direta na fonte do problema, diferentemente dos tratamentos atuais que focam na remoção do excesso de gordura em circulação pelo fígado. Além disso, sua ação prolongada é vista como uma grande vantagem, já que os remédios atuais precisam ser tomados diariamente ou injetados a cada quinze ou trinta dias.
Inicialmente, a Anvisa aprovou o inclisirana apenas para pacientes de alto risco cardíaco que não conseguem controlar o colesterol com as estratégias tradicionais. No entanto, espera-se que sua eficiência seja confirmada para servir a um maior número de pessoas. O custo do tratamento ainda está em fase de definição, mas fora do Brasil, o valor equivale a 30.000 reais por ano.
A expansão do uso do inclisirana pode ajudar a superar um dos principais desafios no tratamento do colesterol alto: a baixa adesão dos pacientes. Com injeções a cada seis meses, a adesão ao tratamento pode ser garantida, evitando que a pessoa se esqueça ou deixe de tomar a medicação diária.
As injeções de RNA de interferência, como o inclisirana, inauguram um novo capítulo na guerra contra o colesterol elevado, uma questão de saúde pública. O colesterol é um fator de risco particularmente desafiador, pois suas taxas podem permanecer elevadas por anos sem dar sintomas, sendo muitas vezes a primeira manifestação um ataque cardíaco.
Cada nova classe de medicamentos capaz de conter o “assassino silencioso” é bem recebida pela classe médica. O inclisirana deve ampliar o arsenal nessa batalha, podendo ser usado isoladamente ou em combinação com a terapia-padrão.
A conscientização sobre o colesterol também é fundamental. Uma pesquisa do Instituto Ipsos revelou que 64% dos brasileiros desconhecem suas metas de colesterol e seu risco cardíaco. A boa notícia é que, ao que tudo indica, os brasileiros poderão em breve usufruir de um tratamento inovador com apenas algumas picadas anuais.
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